
Críticas
Uma Apresentação Crítica-Formal
por Sandra Makowiecky Salles
Membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte/ABCA/AICA
Caio Borges, desde que iniciou suas atividades como artista plástico, procura aliar sua poética a busca incessante de um refinamento técnico que lhe asseguram hoje um lugar de destaque no panorama artístico catarinense.
Trabalhando com a figura humana e a natureza, revela-se um artista preocupado principalmente com o seu processo criativo, que segue em curso, não se atendo a proposta de vanguarda de primeira hora.
Seu processo de trabalho não é complicado. Disse certa vez, “curto a forma, o volume. Eu gosto de mulher cheinha. Acho que Renoir foi feliz”. Não e só na forma e na mulher cheinha, que Caio se identifica com Renoir. Este também sentia um prazer enorme em pintar e dizia, “Por que não pintar a alegria?”. Utilizava a pintura como forma de expressar seu prazer pela vida.
Por outro lado, Caio admite que a pressão do mercado o incomoda e destaca que o “nu”, surgiu em sua pintura, em decorrência das exigências do mercado.
Seu material expressivo inicial resultava em esculturas, que foram cedendo espaço para pintura, em decorrência das exigências do mercado, pois o mercado de escultura era muito limitado. E assim, voltou-se a pintura que foi acontecendo...
Geralmente desenvolve uma proposta em séries, como que a necessidade de explorar ao máximo uma idéia, uma possibilidade.
Preocupa-se em captar o ideal masculino e feminino, em seus belos gestos e posições. O corpo humano visto numa apoteose de si mesmo parece ser o instrumento ideal para suas concepções artísticas e torna-se ferramenta para expressar as extensas gamas de emoções do ser.
Seus trabalhos são figurativos. Já tentou a abstração, mas a figura sempre aparece numa série de movimentos e gestos que perpassam sensualidade, erotismo, languidez, preguiça. Geralmente mulheres, numa condição de objetos artísticos, quase sempre colocadas em descanso, lânguidas e informais. A partir da ótica do imaginário coletivo, pode-se dizer que Caio recria momentos de feminilidade, com personagens retratadas em contemplativa serenidade. Não sente interesse em retratar pessoas ou criar paisagens.
Rendas, pombos, frutas, flores, são recursos que Caio utiliza para apresentar seu tema mais presente - a mulher. Caio trabalha pouco a fundo, que para ele “deve ser deixado no infinito”.
Sua preocupação maior é com o desenho, que vem sempre primeiro, a cor para ele e um acessório. É como se colorisse o desenho.
Percebe-se em sua pintura grande interesse no ritmo linear da composição e nas poses retorcidas de suas imagens. Nesta concepção, a cor não tem muita importância. A sua simplicidade no uso da cor, a preferência por tons pastéis são evidentes nas pinturas, onde as figuras se parecem com esculturas tingidas e as cores de fundo dos tecidos ou outros elementos servem para amenizar os tons da carne.
Não hesita em distorcer a anatomia humana em benefício da expressão de emoções. Em suas palavras “as cores vão acontecendo. A própria base que uso já abafa a cor. Não quero que a cor interfira no resultado final.” Mesmo assim, na pintura, considera seu trabalho atual decorativo.
Sua pintura mostra que, como escultor, raciocina em três dimensões. Utiliza o relevo, sugerindo texturas...
Admite que gosta de pesquisar texturas. Sente necessidade do volume, do relevo e esta necessidade se manifesta na sua postura atual de enfrentar mais uma vez a escultura. Quer moldar, quer dar vida a materiais inanimados.
Nas pinturas, utiliza contornos acentuados, sombras e luz. As cores são usadas para preencher o delineado das formas. Para ele a pintura fica melhor à medida que se aproxima do relevo. Em seus painéis, a preocupação com a forma sobressai.
Diz Caio: “Quando algo me desperta a atenção, detenho-me a observar a cena, tentando captar a organização dos seus elementos: a figura, o objeto, a composição de seus volumes, cores, texturas, enfim, o que apresenta plasticidade, expressão...”
O corpo humano também sobressai nas suas esculturas, para as quais deseja, no momento atual, dedicar mais atenção.
E assim segue Caio, coerente nas suas posturas.
Transitando ora pela pintura, ora pela escultura, persegue um ideal plástico, uma poética própria, que se configure com uma proposta de vida.
Amenidade instigante de Caio Borges
por Aurélio Benitez
Crítico de arte e jornalista
O universo pictórico de Caio Borges contém uma amenidade de certa maneira instigante. A amenidade está localizada no ambiente cromático de tons inclinados para suave e que instantaneamente se apoderam dos sentidos do observador.
É verdade que o pintor em determinados lances de sua arte derrama uma porção diminuta de cores quentes, como o vermelho, para avisar que as emoções são sinônimos inerentes ao nosso clima tropical. Mas essa particularidade só tem o intuito de mexer devagar com o íntimo das pessoas. Não chega a fazer com que a serenidade amena das pinturas estremeça. O que predomina mesmo na obra deste artista é a calma de uma amenidade que tenta despertar no observador a atenção para a beleza das formas, das figuras humanas ou das sutilezas estéticas das flores e outros elementos da natureza-morta.
A fim de despertar essa atenção, Caio Borges usa também com prioridade a plasticidade que a matéria lhe oferece. Daí surgirem formas quase que agigantadas de flores e de folhas. São formas geometrizadas, que às vezes fogem do volume natural para dar maior realce ao capricho que a natureza utilizou ao criá-las. Daí também surgirem às linhas arredondadas do excelente desenho que dão formas as suas figuras humanas, que se apresentam em situações de paz total com a vida.
O lado instigante da obra de Caio Borges está exatamente no ambiente psicológico que ele consegue colocar em sua arte através dos personagens. Repara-se que eles transmitem um calor pacífico, um apelo para o lado prazeroso da vida, eliminando qualquer traço de violência própria do mundo moderno. É instigante porque trás calma e amenidade com as formas bastante avolumadas e cores que não agridem a nossa retina. É instigante porque Caio Borges consegue unir formas avantajadas e um ambiente cromático suave. Nasce daí um universo de amenidade irrepreensível.
Da obra pictórica e do extremo talento de um jovem, que vem se firmando nas artes catarinenses como um dos mais criativos e produtivos de uma nova geração de artistas brasileiros.
Caio Borges Instiga: Esperança...
por Mace Di Bernardi
Produtora cultural, cenógrafa e videomaker
Para o artista plástico Caio Borges, produzir é a palavra de ordem. Compulsivamente. Atavicamente. Com a paixão.
Do desenho à pintura, às telas. Do barro ao gesso, bronze e resina, esculturas. Ou tudo ao mesmo tempo, tanto faz. Gestos leves transformam-se em volumes. Pinceladas fortes expressam leveza.
Confundindo-nos entre a pintura e o desenho, através dos contornos acentuados estabelece limites nos campos de cor como se fosse parte de um processo de ordenamento interior, fronteira com algo que ainda esta a forjar. Com a objetividade de um único traço descreve a figura com tamanha unidade que ocupa todo o espaço da tela, como que transformando a obstrução gestual em absoluta intenção de desejo.
E assim vão as mulheres ocupando seu universo pictórico e escultórico, como uma perseguição a serenidade e a cumplicidade com o feminino. Plenas de contida sensualidade, opulentas, as mulheres de Caio, cada uma ou todas, oferecem-nos a contemplação da temperança. Transmitem-nos sossego, afeto. Trazem-nos o canto dos pássaros, o arrulhar dos pombos, os sons do violino, das frutas. Estados da alma que despertam nossa memória sensível para a delícia do colo que nos embalou. Sejam maternos, fraternos ou das amadas.
É a natural intimidade com o calor, a cor e a claridade brasileira revela este erotismo sutil, profusão de luzes intensas do trópico, e traços que traduzem o aconchego, amores, momentos ternos, seres de plena emoção, que nos fazem acreditar que o sonho é possível.
Em outros momentos com uma composição cubista, exibe nas naturezas mortas a gama de tonalidades quentes das flores e frutas tropicais, emolduradas por objetos do cotidiano convidando o olhar a entrever paisagens, sejam montanhas ou as torres da urbe em fundo infinito.
Caio, que na sua obra percorre mundos, naturezas e seres, persiste na disciplina dedicação em buscar todas as formas de beleza, num constante desejo de plenitude e serenidade. Quando mergulhamos em seu universo parece que tudo em torno perde em atenção. Nem este desmesurado turbilhão global, tortos caminhos de ser, com desassossegos e conflitos do cotidiano, tortos caminhos da vida... Nada é o bastante para abafar a luz. Com suas obras, provoca o observador a acreditar na esperança. Instiga-nos a crer que para alcançarmos estes espaços e estados oníricos bastaria que conduzíssemos melhor nosso sonho.